A teoria da extero-gestação vem de um conceito apresentado
pelo antropólogo Ashley Montagu, e recentemente popularizado pelo pediatra
americano Harvey Karp, com o propósito de reconhecer que nossos bebês “não
nascem prontos”. Desta imaturidade biológica ao nascer deriva a necessidade
vital dos bebês humanos de apego,
contato e proteção de seus cuidadores no mínimo em seu primeiro ano de vida,
quiçá no primeiro triênio.
Flávia Mandic traduziu a obra do Dr. Karp, e apresenta o seguinte resumo
em sua página Teoria da Extero-Gestação,
no Facebook.
“Os bebês humanos estão entre os
mais indefesos de todos os mamíferos. Por causa do maior tamanho do cérebro e
do fato de que o tecido nervoso necessita de mais calorias para se manter que
qualquer outro, grande parte do alimento ingerido é gasto em prover nutrição e
calor para as células nervosas. Mais significante é o fato de que nossos bebês
necessitam nascer mais cedo do que deveriam, com seus cérebros ainda não
totalmente desenvolvidos. Se o bebê humano nascesse já com o sistema nervoso
central amadurecido, sua cabeça não passaria pela pelve estreita da mãe no
momento do parto. Ao contrário de outros mamíferos, como girafas e cavalos, o
recém-nascido humano é incapaz de andar por um longo período após o nascimento,
porque lhe falta o aparato neurológico maduro para tanto. O custo primal de ter
um cérebro grande é que nossos filhotes nascem extremamente dependentes e em
necessidade constante de cuidado.
O crescimento do nosso cérebro após o
nascimento é mais rápido do que o de qualquer outro mamífero e segue neste
ritmo por 12 meses.
A seleção natural demanda que pais
humanos cuidem de seus filhos por um longo período e que os filhos dependam dos
pais. Esta necessidade mútua traduz-se em um estado emocional chamado “apego”.
Em algumas culturas, como na tribo
!Kung, bebês raramente choram por longos períodos e não há sequer uma palavra
que signifique “cólica”. As mães carregam os bebês junto ao corpo, com um
aparato semelhante a um “sling”, mesmo quando saem para a colheita. A relação
mãe-bebê é considerada sacrossanta, eles permanecem juntos o tempo todo. O bebê
tem livre acesso ao seio materno e vê o mundo do mesmo ponto de observação que
sua mãe.
Nossa cultura ocidental não permite
um estilo de vida idêntico ao de tribos primitivas, mas podemos tirar lições
valiosas sobre como ajudar nossos bebês na adaptação à vida extra-uterina.
Nos primeiros 3 meses de vida, o
bebê humano é tão imaturo que seria benéfico a ele voltar ao útero sempre que a
vida aqui fora estivesse difícil. É preciso compreender o que o bebê tinha à
sua disposição antes do nascimento, para saber como reproduzir as condições
intrauterinas. O bebê no útero fica apertadinho, na posição fetal, envolvido por uma parede uterina morninha, sendo balançado para frente e para trás a maior parte do tempo. Ele também
estava ouvindo constantemente um barulho "shhhh shhhh", mais alto que o de um aspirador de pó
(o coração e os intestinos da mãe).
A reprodução das condições do
ambiente uterino leva a uma resposta neurológica profunda "o reflexo
calmante". Quando aplicados corretamente, os sons e sensações do útero têm
um efeito tão poderoso que podem relaxar um bebê no meio de uma crise de choro.”
Analisando as características das condições intrauterinas podemos
facilmente compreender como os slings são instrumentos poderosos em oferecer ao
bebê o período de extero-gestação de que ele necessita.
1. Aconchego
Dentro do sling os bebês ficam
embrulhados e apertadinhos como quando estavam dentro da barriga da mamãe. Esta
contenção é tão importante para eles que muitas pessoas utilizam o pacotinho
feito com um cueiro para enrolá-los e fazê-los dormir.
2. Posição fetal
A maleabilidade do tecido dos slings
permite que o bebê mantenha-se enroladinho em uma posição fisiologicamente mais
adequada do que o estiramento proporcionado por carregadores rígidos ou a
posição deitada em berços ou carrinhos de bebê. Este enrolamento favorece o
desenvolvimento psicomotor, preservando as funções da cadeia muscular flexora,
responsável pela maior parte das atividades de um recém-nascido até o terceiro
mês de vida: Sugar, deglutir, digerir, levar as mãos ao rosto e começar a relacionar-se
cada vez mais com o mundo ao seu redor.
3. Temperatura
O contato pele-a-pele com o corpo do
cuidador mantém o bebê quentinho e menos suscetível às variações de temperatura
do ambiente externo, além de favorecer o vinculo com os cheiros e sons do corpo
da mamãe, que são verdadeiros calmantes para o bebê. Por isso já é sabido por
todos que não existe colo igual ao de mãe!
4. Balanço
Amarrado ao corpo do adulto os bebês
acompanham toda a sua movimentação e podem sentir o balanço assim como quando
estavam dentro da barriga. Ao sair para passear com o bebê no sling é muito
comum eles adormecerem logo nos primeiros passos da caminhada, assim como é
amplamente utilizada a técnica de ninar os bebês, balançando-os no colo, ao
colocá-los para dormir.
5. Barulhos
O meio intrauterino não é silencioso
e diversos estudos abordam o desenvolvimento da audição no feto, apontando que desde
o quarto mês de gestação o bebê já é capaz de ouvir os sons corporais da mãe
(pulsação, respiração, digestão) e a partir do sétimo mês de gestação é capaz
de ouvir sons externos. Amarrados no sling os bebês estão expostos à todos os
barulhos do ambiente que o cerca e, salvo grandes estrondos, estes sons lhe
soam familiares. Observa-se que muitos bebês inclusive adormecem melhor imersos
nos chamados “white noises”; barulhos contínuos e uniformes, como o chiado e
sons de estática emitidos por alguns eletrodomésticos.
6. Nutrição
Dentro do útero o bebê é alimentado constantemente,
conforme suas necessidades e sem fazer qualquer esforço. Um dos maiores
benefícios do sling é favorecer a continuidade deste processo, uma vez que é
extremamente fácil amamentar os bebês dentro dele. O sling mantém o bebê em
contato direto com o peito da mãe, tendo-o facilmente ao alcance de sua boca, e
sendo estimulado pelo cheiro do leite. Sendo assim, o sling é um grande aliado
da amamentação em livre-demanda, já que com ele não há hora nem lugar certos
para dar de mamar. À qualquer hora e em qualquer lugar o sling oferece uma
forma aconchegante e inclusive discreta para se amamentar por aí.
Como inúmeras vezes já vimos acontecer, estudos científicos modernos vem
provar o que culturas tradicionais do mundo inteiro já sabiam há séculos.
Carregar bebês em pedaços de panos amarrados ao corpo da mãe é um hábito humano
ancestral que deriva do conhecimento de todos de que disso depende a nossa
sobrevivência.
Agora, quando a sociedade
moderna aprender que nem só de ciência e tecnologia se fazem nossos avanços,
mas que principalmente de preservação cultural, respeito às raízes e resgate de
valores, conhecimentos e práticas tradicionais; aí sim, conseguiremos superar o
estágio de mera sobrevivência animal para começar a de fato viver, com todas as
potencialidades que a evolução nos traz.
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